Pagophilus groenlandicus, a “amiga do gelo da Gronelândia”.
Flutuo num mundo submarino de nuvens de gelo encrespadas e desfiladeiros sombrios.
É o ambiente de Inverno do golfo de São Lourenço, no Canadá.
Mal atravessam a superfície das águas, os raios de Sol são logo extintos pelas profundezas cinzentas.
Medusas translúcidas passam à deriva, escravizadas pela corrente.
As focas da Gronelândia aparecem como torpedos fantasmagóricos, no limiar da visibilidade.
Alguns aproximam-se, inspeccionando-me com olhos escuros protuberantes. Um vira-se de cabeça para baixo, revelandono dorso a mancha em forma de harpa que originou o nome comum destas focas em inglês (“harp seal”). Irrompo à superfície num intervalo entre as massas de gelo flutuante. Movimentando-se para cima e para baixo, as focas fêmeas deslizam naquele líquido com pedaços de gelo, parecido com uma margarita, espreitando pelo rebordo para vigiar as crias. Estamos em meados de Março, época alta para as focas da Gronelândia, que migraram 3.200km para sul, desde o Árctico, até alcançar os tradicionais territórios de Primavera no golfo de São Lourenço e ao largo das costas do Labrador e da Terra Nova. Todos os acontecimentos mais importantes das suas vidas – acasalamento, procriação e mudança de pêlo – ocorrem neste lugar, onde as tempestades assolam o mar gelado e as correntes enrugam os bancos de gelo flutuante, construindo um “Stonehenge” branco e enorme.
Há 40 anos, registou-se uma amarga polémica entre os caçadores de focas e os grupos de defesa dos animais sobre a caça às focas da Gronelândia bebés.
De pêlo branco e fofo e olhos negros implorativos, as crias de foca da Gronelândia transformaram-se na mascote do movimento que combatia a caça das focas, simbolizando todos os erros provocados pela exploração humana da natureza. (...)
Com efeito, caçam-se actualmente mais focas da Gronelândia do que em qualquer período dos últimos 35 anos. Atendendo a estas pressões recentes, como tem evoluído a espécie? Poderão os protestos e a legislação garantir o futuro da foca da Gronelândia? Ou estará a Pagophilus condenada ao destino das grandes baleias, cujas populações sobreviventes não passam de tristes vestígios de uma espécie outrora prolífera?
Este é um excerto da reportagem que pode encontrar na edição impressa da National Geographic Magazine – Portugal.
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